Crítica- Um Lindo Dia na Vizinhança: Um retrato puro de cuidado e gentileza
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- 27 de dez. de 2019
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Atualizado: 12 de jan. de 2020

NOTA: 9,0
Nesse ano eu assisti a vários filmes e um dos meu favoritos foi Klaus, uma animação da Netflix sobre o conto do Papai Noel, que tinha uma mensagem muito simples: "Um ato gentil de verdade sempre gera mais gentileza". Mensagem simples, mas que vem sendo esquecida ultimamente. Eis que surge "Um Lindo Dia na Vizinhança" para me mostrar a prova viva dessa mensagem através da persona de Fred Rogers.
Caso você não conheça, Fred era um apresentador infantil dos EUA que tinha um programa chamado "Vizinhança do Fred Rogers", que por meio de músicas e histórias, falava desde temas leves como alegria, tristeza e brincadeira, até assuntos mais delicados, como divórcio, morte e assasinato. O filme se baseia no artigo do jornalista Tom Junod da revista Esquire, que era famoso por desmascarar pessoas e que tentou fazer o mesmo com Fred. Porém, apenas encontrou, segundo o próprio material, "A pessoa mais gentil que eu já conheci", frase que é repetida no filme, mas com outro significado. Fred Rogers para os americanos, era a personificação do que seria um ser humano perfeito e é justamente este o ponto que o filme vai discutir.

Nos minutos iniciais do filme, já vemos Fred, (protagonizado por Tom Hanks, escolha perfeita para o papel) entrar e recriar a famosa abertura do programa e, a partir do momento em que ele começa a falar com a câmera, você acredita que o experiente ator de fato é Fred Rogers e isso se deve também, ao trabalho brilhante da diretora Marielle Heller em recriar o cenário com as cores do programas (com fortes tons de vermelho e laranja simulando a qualidade das TV's dos anos 70 e 80). Durante todo o filme, a diretora usa a estética como parte da história, seja por meio das cores, maquetes modulando o estilo do programa e até mesmo com a decisão de conta a história como um episódio do programa de Fred é um acerto, pois nós sentimos exatamente como as crianças que assistam o programa, esperando o apresentador contar uma história com uma lição, o que de fato ele faz no filme.
O roteiro é extremamente sensível quanto a figura dele, em mostra-lo não como um santo, mas como uma pessoa normal. O próprio personagem principal da história não é o Fred e sim Lyod Vogel (Matthew Rhys na personificação do repórter original), um repórter investigativo que precisa lidar com seus problemas pessoais (o abandono do pai na infância e sua negligência com o próprio filho) e que simplesmente não consegue acreditar que alguém seja de fato tão bom.
Lyod é o personagem perfeito para acompanharmos nessa jornada, pois como a maioria de nós, não consegue acreditar que uma pessoa seja boa por natureza. Queremos saber a razão por trás disso, o que a pessoa está ganhando, o porquê de ela estar fazendo isso. Chega até a um ponto em que o repórter questiona a mulher de Fred. "Como é ser casada com um santo?", no que ela responde "Ele não é nenhum santo. Erra e sente raiva como todo mundo, mas ele apenas escolhe como canalizar esses sentimentos". E mesmo essa figura de santidade nos rende momentos engraçados, como o momento em que o repórter está almoçando com Fred e ao ver o prato do apresentador fala "Você é vegano?", no que ele responde "Eu não consigo comer nada que tenha tido uma mãe", seguido de um Lyod incrédulo que apenas o encara.

A direção e o roteiro nos fazem sentir os ambientes da história. As cores sombrias quando estamos com Lyod, nos fazem sentir toda a dor e angústia do personagem, mas nos minutos em que entramos no mundo de Fred, as cores aumentam, o azul e o vermelho invadem a tela, quase como se o apresentador invadisse o mundo de Lyod o que, na verdade, ele o faz. O roteiro faz questão de mostrar o poder que Fred tem nas pessoas, a cada pergunta que o repórter faz, o apresentador faz outra e o que parece ser perguntas simples como: "Como foi seu dia?", "como era a relação com seus pais?", "você tinha um brinquedo favorito?", para uma pessoa fechada como Lyod, é quase uma tortura, chegando ao ponto de ele falar "Sou eu que estou fazendo as perguntas aqui", no que Fred simplesmente fala "Eu sei, não é incrível quando nos ouvimos um ao outro?"
É justamente essa a mensagem do filme: "Gentileza e bondade não precisam de uma razão para acontecer, apenas devem acontecer e você não precisa de uma razão para ouvir alguém" e os atores fazem questão de exemplificar isso. Tom Hanks enquanto Fred Rogers, pegou todos os maneirismos e até o modo calmo e quase didático que o apresentador falava. Se você pegar qualquer vídeo do verdadeiro Fred e comparar, você não vê diferença. Ele é o coadjuvante do filme, mas rouba os holofotes em toda cena que aparece, mas Matthew Rhys também não fica atrás. Seu negativo Lyod Vogel é o apelo do filme. A maneira como ele duvida de Fred e questiona o apresentador, enquanto se sente desconfortável com os questionamentos do mesmo, deve-se a brilhante direção de Marielle Heller em mostrar o constrate entre esses dois personagens, os closes abertos e iluminados quase botando como um deus e uma câmera mais fechada em Vogel para mostrar sua personalidade retraída, até a brilhante cena que beira o surrealismo que mescla o programa e a realidade é extramente bem feita. O restante do elenco faz um ótimo trabalho em resgatar o espirito do programa, mas é Tom Hanks e Matthew Rhys que roubam o show
Fred Rogers sempre falava que seu programa era " Uma vizinhança que demostrava carinho e gentileza" e é isso que vemos no filme. Do trabalho do roteirista e da diretora às atuações. Nós podemos ver a gentileza e o cuidado não só em retratar Fred, mas na mensagem que ele passava, é quase como se nós pudêssemos sentir o apresentador falar para a gente, a frase que ele sempre terminava seu programa " Você tornou esse dia especial, apenas sendo você. Não existe ninguém no mundo como você e eu gosto de você exatamente como você é".
Autor: Marcos Paulo
Revisão: Tatiane Raquel
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