Crítica- The Farewell: Uma Despedida à Moda Oriental
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- 1 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de jan. de 2020

NOTA: 9,O
"Essa é a diferença entre Leste e Oeste: aqui no Leste a vida de uma pessoa é parte de um todo, FAMÍLIA ". Este é o tema central de The Farewell, primeiro trabalho da diretora Lulu Wang que, por meio dessa história auto-biográfica, nos mostra a função da familia e a dificuldade em dizer adeus.
A história foca em Billi (Awkafina), uma jovem chinesa criada nos EUA e sonha em ser escritora, que descobre que sua avó que reside na China (chamada de Nai- Nai, pronome chinês) está com um grave câncer terminal no entanto, não pode falar para ela pois toda a família concordou em deixa-la aproveitar esses últimos meses em paz. Por essa razão, até marcaram um casamento falso, para que todos pudessem ver a matriarca pela última vez. Então Billi se vê em um dilema: devo contar a verdade e "matar" a minha avó ou mentir e continuar carregando o peso da culpa por essa mentira?
Esse conflito é justamente o coração do filme. Vemos Billi, que não concorda com a mentira, lidar com essas emoções enquanto toda a família tenta blindar a verdade da avó. O filme tinha tudo para ser um drama pesado, mas Lulu Wang sabe usar com maestria, a linha tênue entre a comédia e o drama, com closes nos rostos de cada parente à mesa, segurando o choro durante o jantar ou no passeio da família no cemitério. É quase como se Wang quer para a gente ver a expressão de cada um da família, esperando o momento em que um deles não vai suportar e irá contar a verdade.

A fotografia e a trilha sonora também ajudam na construção do ambiente. As luzes neons e as cores rosa e azul fazem nos sentir confortáveis como se estivéssemos em casa, ao mesmo tempo em que a trilha sonora de Alex Weston com suas cordas e canto lírico, nos deixa ansiosos e nervosos sobre o segredo.
O filme ainda aborda a diferença social entre os que deixaram a sua terra natal e os que ficaram. É bastante interessante vê-las também no contexto cultural, como por exemplo na discussão no jantar sobre os filhos saberem ou não mandarim, ou o motivo de eles terem saído da China, além da forma como enxergam a perda: a cultura oriental a percebe como um ciclo que se encerra, e que essa vida é ligada a um grupo que continuará sendo lembrada, mesmo após sua partida.Todos esses momentos de discussão servem para criar empatia pelos personagens, mas também para reforçar a mensagem do filme de que "Família é família, não importa onde esteja, ela sempre permanece unida".

As atuações são incríveis. Todo o elenco faz um trabalho brilhante, mas quem se destaca mesmo é Awkafina, com sua conflituosa Billi, e Zhao Shuzhen, com sua adorável Nai- Nai. Awkafina está totalmente diferente de seus outros papéis: aqui ela está contida, falando baixo e sua Billy (que é o retrato da própria diretora), realmente carrega o peso da mentira, perceptível nas cenas de diálogos com a família, onde podemos sentir a dor que a personagem carrega e sua relação de zelo e carinho com sua avó. E se a química desse filme dá certo, é graças a Nai- Nai de Shuzhen, na qual a atriz consegue passar a imagem de carinho e amor, sendo aquela avó que todo mundo quer ter: que apesar de ser zelosa e carinhosa, não se isenta de puxar a orelha de cada um dos filhos, se importando com todos de uma maneira especial, o que nos gera um desconforto ainda maior com a mentira dos demais personagens.
Mesmo com os diálogos em Mandarim e passando na Chinat, "The Farewell" fala sobre um assunto que é universal: família e perda. Mas ao mesmo tempo, mostra que é possível fazer histórias sobre luto sem apelar para sentimentalismo e pieguices, mas lidando com maturidade e união, exatamente como os orientais fazem.
Ps: Acho bom ficarem de olho na Lulu Wang, pois é uma diretora que vai brilhar muito
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