Critica - Miss Americana
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- 6 de fev. de 2020
- 3 min de leitura

Nota: 9/10
Se há algumas semanas Taylor Swift era lembrada pela participação (embora elogiada) no fiasco que fora o musical “Cats” lançado no dia 25 de dezembro, pode-se dizer que Miss Americana, seu documentário lançado pela Netflix no último dia 31 de janeiro, a remete agora a uma artista completa e em constante crescimento que, muito embora tenha decidido se manter longe de assuntos polêmicos como política, por exemplo, não consegue (e não quer) se desvencilhar da figura de cidadã engajada.

Dirigido pela cineasta americana Lana Wilson, o documentário traça a trajetória linear dos bastidores da vida de uma menina que desde adolescente precisou lidar com a exposição precoce, principalmente em seus relacionamentos pessoais que sempre terminavam nas capas de revistas com uma canção que geralmente atingia o topo das paradas. Cada flash com a idade de Taylor ao longo da produção representa um momento específico em sua vida, retratado como se fosse um ciclo, com início, meio e fim. Os diários, a relação com a família e os amigos, o processo de composição das músicas, as polêmicas. Não são apresentados como fatos isolados de sua vida, mas como pertencentes a cada época específica de sua carreira.

A partir disso, diversos acontecimentos da vida de Taylor Swift foram abordados na produção, como o crescimento no country, a migração para o pop, o problema com a bulimia, a relação com os “haters”, o câncer da mãe, o caso de assédio sexual, o posicionamento político e a grande polêmica em 2009 no Video Music Awards, quando a cantora, então com 20 anos, venceu o prêmio de Melhor Vídeo Feminino com a faixa “You Belong With Me”, fato que desagradou o rapper Kanye West que subiu no palco, tirou o microfone de suas mãos e disse para o salão inteiro que quem deveria ganhar a categoria era Beyoncé. O acontecimento considerado pela própria Taylor como um divisor de águas, deu margem a outra polêmica em 2016 envolvendo novamente o rapper e dessa vez, sua esposa, Kim Kardarshian. Na ocasião, a cantora “só queria sumir”. Tudo retratado milimetricamente.

A produção ainda acertou explorar a relação entre os acontecimentos na sua vida pessoal e profissional com a composição de suas canções, característica que virou marca registrada de Taylor: transformar em música aquilo que ela sente e então compartilhá-la com os fãs. Momento perfeitamente representado pelas cenas com as músicas “Call It What You Want” do álbum “Reputation” (que destoa um pouco da aura principal do álbum) e “Lover”, música-título do álbum mais recente da cantora, na qual remetem ao namoro de Swift com o ator britânico Joe Alwyn. Aqui, mais um ponto para destacar: uma crítica particular que sempre tive, foi em relação a exposição excessiva dos relacionamentos dela na mídia, o que não parece ser o caso entre ela e o “London Boy”. Mesmo ao referir-se a ele no documentário, a cena mais explícita do relacionamento entre dois se resume apenas a um abraço apertado após a apresentação de Taylor na Reputation Stadium Tour. O que não significa, como percebemos nos flashs anteriores, que ela o ame menos por isso.

O momento mais significativo do documentário ficou para o final e fala sobre o posicionamento de Taylor, na qual pela primeira vez desde que iniciou a carreira, não só incentivou os jovens a tirarem os seus títulos e comparecerem às urnas em seu estado, como declarou abertamente o seu apoio aos candidatos democratas durante as eleições para o senado. O acontecimento gerou a música “Only The Young” (também lançada para promover o documentário), que conta com trechos como “Eles não vão nos ajudar (...) eles não vão mudar isso, temos que fazê-los nós mesmos”, que pode ser tomada como uma mensagem de esperança aos jovens para que não desistam de fazer a sua parte enquanto cidadãos e para que não abram mão dos seus ideais de resistência.

De maneira geral, o documentário mostra com excelência o amadurecimento profissional e pessoal de Taylor Swift, com foco no discurso engajado em causas sociais como igualdade de gênero e a causa LGBTQ+, o que tende a ser extremamente significativo vindo de uma artista com forte influência entre jovens no mundo inteiro. No entanto, esta posição não a impediu de passar por toda a insegurança e busca por aceitação de uma jovem cantora com suas ambições e ao abordar este aspecto aliado as conquistas ao longo de sua carreira, abole o discurso nocivo de que se é obrigado a vencer o tempo todo. A ideia de que chorar faz parte, de que ninguém consegue estar feliz o tempo todo, mas que fazer-se ouvir, confiar nas pessoas certas e acreditar no bom trabalho que tem sido feito, é uma narrativa que, vindo de alguém como Taylor Swift, definitivamente pode fazer a diferença entre milhares de pessoas mundo afora.
Texto: Tatiane Raquel
Edição: Marcos Paulo
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